quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma Maria à Rosa

Ela adormeceu casulo para amanhecer borboleta...
Alguém que viveu por bastante tempo, pra me ensinar muito com a simples serenidade na presença e que ainda me ensina pela falta que faz na ausência...
Trançava com delicadeza meus cabelos, com o mesmo cuidado e firmeza com que fazia em cada pedaço de sua vida, amarrando tudo com seu amor e uma tira de pano florida.
Seu sorriso brilhava mais que qualquer dente que poderia existir.Seus olhos, tão profundos quanto um poço, cavado dentro de um oceano de sabedoria.
Matriarca que nasceu num tempo em que a mulher não tinha voz. Mas ela era ouvida sem precisar gritar. Criou tanta cumplicidade, amadureceu destrinchando experiência e disseminando bondade.
Quanto gênio, que fortaleza, uma personalidade construída pela saudade do que ou de quem ficou pelo caminho.  "Eram tantos" - ela dizia - mas ainda sim seguia como podia.
Sempre forte nunca perdeu a sua fé na cura de qualquer mal.
Não descansou, porque na verdade nunca se cansou de agradecer por cada dia, cada gesto, de abençoar cada passo de suas crias.
Não exagerava em beijos, mas era só abraços, que precediam um colo capaz acalentar todas as inquietações do mundo, de nossos corações.
Não era uma maria,  era Maria Rosa, era "nossa mãe, nossa protetora, nossa guia, nossa defensora"...
Morar com ela era flor, festa e muitos "coração com coração é amor", que dizia a cada abraço forte.
A gratidão com que nos olhava a cada gesto de cuidado, era um décimo da gratidão que eu espero ter refletido em meus olhos. Agradeço por todos os dias que pude colocá-la pra dormir, em seus lençóis apertados, como um...
...casulo, que adormeceu,  para amanhecer borboleta...
Um centenário contando suas histórias, nos fazendo caminhar pelas veredas que passou, às vezes tristes, às vezes cômicas, deixou pra trás o corpo que já pesava n'alma...
Voa vó, voa, leva felicidade, mas ainda deixa tanta saudade...

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