terça-feira, 11 de junho de 2013

Um ser decocto

Pouco estômago pra tanto mundo
Ensinam-nos a não consumir tudo com tanta pressa
Pedem paciência
pra ficar frio
pra ficar quente
pra ficar
pra ser digerido
virar adubo, ser cagado ao invés de saborear e defecar cada mordida, lambida, cada gole, odor, textura e tudo que não se aproxime desses pré-preparados propositalmente bem servidos de rebotalhos que minguam até a farta miséria de cada um.

domingo, 7 de abril de 2013

Percepção alimentícia



Como todos os lugares que passo inconscientemente
Cada passo
Cada toque
Pupila da percepção que se estica e retrai
Retração que trai
Subscrevendo outras existências
Fazendo da história um rascunho rasurado
Tornando o mar, um asfalto marcado
Marcas das mãos que não possuem tato
Toco cada pedaço de percepção
Estico, debato, arrebento
Sinto o paladar do que me entorna
Todavia ao parar e tomar o sustento
Lembro de lavar as mãos
Ao mesmo tempo que temo perder tudo que toquei
Perco a oportunidade de sentir o gosto do que me toca

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Entranha



Virado
Falta o peso dentro
Avesso
Toda tentativa de ingestão escorre externamente
Aparente
Órgãos trepados e pendurados, tentando não despencar
Pulsando
Buscando cobertura
Cru
Como tudo que não terminou o ciclo vitalício
Exposto
Esfolado
Execrado
Carne viva
Desagradável, tanto pra quem vê, quanto pra quem sente
Inverso
Grotesco
Visceral
Delicado
Falho
Sem escolha
Puro
Sem acabamento
Interior
Escatológico
Vulnerável
Infectável
Fluidos
Lacrimais
Secreções
Secretas
Discrições
Represa
Circulações
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Vento
Tempo
Sangue
Vento
Tempo
Sangue
Pra coagular, endurecer, diante de tanta falta de estesia
Verborragia indesejada
indecente
in de sente
independente de se ja
de se ja da
in de seja da 
C a l m a maiscalmatenhacalmavácomcalmamuitacalmacalmacalmacalma
maiscalmatenhacalmavácomcalmamuitacalmacalma
calmacalmamascalmatenhacalmavácomcalmamuita
calmacalmacalmacalmamascalmatenhacalmavácomcalma
muitacalmacalmacalmacalmamascalmatenhacalmavácomcalma
muitacalmacalmacalmacalmamascalmatenhacalma
vácomcalmamuitacalmacalmacalmacalmamaiscalma
tenhacalmavácomcalmamuitacalmacalmacalmacalma
maiscalmatenhacalmavácomcalmamuitacalmacalmacalma
calmac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almaalmaalmaalma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almac’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almaalmaalma
c’almaalmaalma
almaalma
alma

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sentidos

Sentidos perdidos
Não vejo
Não vejo mais o porquê do sujeito indeterminado
    de terminado
in deter minado
Su jeito
que já não me agrada
e de que outro jeito posso dizer 
sem diz: ser 'eu'
se sou 'eu' que o sinto e só por isso o digo?
O ego é o eu com eco.
Negar o ego seria negar o eu
assim como negar o eu de minhas frases 
seria fabricar um outro alguém externo 
do que penso
do que sinto
do que causo
do que digo
e se me nego
e não falo mais na primeira pessoa
tento fazer de mim outro ele
para dizer um pouco mais
sobre
nós

nos 
anulamos

e perdemos
EUEueueueueueumeueueueUmEUeuEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueuseueueueueuEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueuseueueueueuEueueuEUEueueueumeueueueUeueuerromeueueueueueueueueuseueueueueuEueueuEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueuEUEUEUEUEUEUEUEueueuteueueueueueueueueueueumeuseueueueueueueueueueueuseueueueueueueueuemeueueueueuEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueueueueueueueUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueueueueueueueueueueueuUEUEUEUEUEUEUMEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUeueueueueueueueueueueueUseUeUeUeUeUmeUmeUseUseUSeeeuSEUUUUUUUUSentidoSentidoSeeeuSEUUUUUUUUSentidoSentidoSeuseUseUseUseueueueuSeeeuSEUSentidoSentidoSeuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseueuseuseuseuseus
meus
eus
seus
eus
SeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSSentidoSeuSentidoSeuentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuS

domingo, 14 de outubro de 2012

Plenitude arquivada


Talvez a vida seja só um arquivo a ser catalogado e encaixado em alguma gaveta gigante.
Essa ideia não é tão estapafúrdia quanto parece e em pouco tempo - que talvez seja aquele período reservado à internet, redes sociais, besteiras e afins - pretendo explicar-me.
A quantidade de decisões importantes, que são tomadas baseadas em documentos, provas, evidências e teorias de pessoas consideradas mais inteligentes e cultas, é inversamente proporcional, à quantidade de justiça feita sem qualquer tendência.
Justiça, um substantivo que na verdade, é só uma forma algumas pessoas decidirem algo, em tese, "coerente" sem serem questionadas ou refutadas.
Da mesma forma que eu tomo pro que eu digo, a palavra verdade, usando uma máscara para que minhas convicções pareçam incontestáveis.
De alguma forma, se eu fosse influente - conseguindo que tais "verdades" fossem aceitas por alguma maioria - e desse alguns dados concretos para embasar essas convicções, aos que ainda duvidassem, eu poderia ter vidas sendo decididas, baseadas em meu conceito de "justiça".
Em nome de alguma instituições e tradições, o mesmo acontece com as decisões que são tomadas por terceiros, na vida de cada um. 
De acordo com cada população existe uma expectativa diferente quanto a contribuição de cada indivíduo para a humanidade. É uma imensa carga de decisões previamente tomadas sem sequer serem discutidas ou questionadas. 
Entre outras coisas, geralmente esperam que todos se reproduzam, acumulem bens, nomes, títulos, dinheiro e ainda datam a fase da vida em que cada uma dessas coisas deve acontecer, com prazo para vencimento.
E quanto aos imprevistos, as coincidências, particularidades, paixões, preferências e INDIVIDUALIDADES? Quem determinou a função social de cada um? Que coletivo é esse determinado por algumas pessoas influentes que decidiram que esta é a verdade justa para todos?
Não é possível responder quem são "Todos", porém fica bem mais fácil descobrir quem é cada um, quando se assume que é impossível obter qualquer verdade universal. O universo sendo algo imensurável, seus fatos e verdades também são inconcebíveis a qualquer ser que acredite em qualquer razão, que não seja a própria.
Partiria então de um novo princípio, onde se até a própria razão é incerta, o norte do conhecimento seria a pesquisa, a experimentação e sensação, buscando alcançar alguma conclusão que traga o sentimento de plenitude e se torne a própria razão de ser, no mundo.
Individualmente poderiam rotular isso como "seguir o coração", "livre arbítrio", "anarquia" ou qualquer outro adjetivo baseado na opinião pessoal de cada um, que é baseada nas próprias vivências e experiências. Porém é incabível taxar algo tão particular como utopia*. 
Quando determinam que a vivência de cada um, tem que seguir o modelo pré-estabelecido como abaixo ou igual ao que consideram o "topo", pressupõem conhecer os todos os limites possíveis. Sentenciam o indivíduo a reviver experiências que foram deliberadas corretas por outros indivíduos influentes, que tinham verdades baseadas em outras deliberações, feitas anteriormente por outros indivíduos, tornando tudo um ciclo sem evolução. É a abolição da criatividade e da singularidade em nome do sistema que gira em torno da própria realidade intangível.
Em um mundo de informações cada vez mais virtuais, a prática de viver tem que ser praticamente toda, embasada em coisas palpáveis para se sobreviver, ainda que de forma subdesenvolvida. Na evolução da vida, a transcendência do sentimento e intelecto, dá lugar ao vencimento da realização física de algo pré-determinado, que por parecer lógico, acaba sem ser questionado.   
A partir dos primeiros anos a espontaneidade começa a ser cerceada. Geralmente se tem até os três anos para se aprender o básico sem ser motivo de preocupação.
Os que tem acesso a educação, nascem com o tempo previamente calculado para absorver toda informação, que estudiosos julgaram serem importantes para qualquer cidadão. Após o término deste período de aproximadamente 15 anos é esperado que já se tenha uma carreira em vista, seja ela por afinidade com a área, vocação, interesse ou necessidade de algum ofício.
Determinaram que um dia tem 24 horas. Dentro destas horas são gastas em média, 11 horas** para que seja exercido um ofício. Como contribuição social, este ofício gera uma recompensa em proventos, que serão convertidos na própria sobrevivência e impostos. Também é aconselhável que cada indivíduo tenha pelo menos 8 horas de sono, para descanso do organismo. Calculando que por alto serão gastas apenas 2 horas para necessidades fisiológicas, restam somente 3 horas de cada dia para vivências pessoais, enriquecimento intelectual, lazer, troca de afeto...
É esse o cotidiano até a chegada de um ou dois dias de descanso, quando a sensação geral é de tanto alívio, que nem é percebido que foi servido ao social e ao fisiológico, em média 75% do tempo de cada um dentro do mês. 
Do início da idade adulta até a aposentadoria, o corpo vai envelhecendo e com 55 ou 60 anos, finalmente é possível parar de contribuir com a própria habilidade e começar a usar mais do que 1/3 dos próprios dias de forma pessoal. Nesse momento todos esperam ter saúde para recomeçar na "melhor idade".
Toda a luta, seja ela para o sustento, ou para atender ao chamado do "dever social" não invalida, de forma alguma, as grandes experiências vividas, no pouco tempo reservado para as particularidades. As particularidades foram tão suprimidas pelas responsabilidades embutidas e assumidas, que elas são mais doces e mais preciosas que os sonhos que foram descartados por serem "utópicos".
As cobranças excessivas de êxito em determinado estilo de viver (incidente sobre a grande massa da população), são o combustível para a competitividade e a alienação. Isso evita que haja tempo e união, para questionamentos e mudanças.
Manter as pessoas muito ocupadas, é a forma de evitar que elas olhem em volta com mais atenção, reflitam e comecem a elaborar um raciocínio que caminhe para uma mudança satisfatória, buscando plenitude nas instabilidades naturais do percurso.
Tais experiências tolidas se tornam mais importantes na história das gerações, do que na própria vivência e existência. É neste momento que algo vivo se torna mais um arquivo a ser catalogado.
A vida humana deixa de ser orgânica, energética, afetivamente e intelectualmente ímpar e vira um dado, de uma função, num nicho, numa organização.
Tudo pela coexistência física, dentro de algo que tem vida própria, ainda que não tenham se dado conta, na ânsia de controlar tudo.
Os ditos populares se tornam verdades e a justiça para poucos, é o que faz cada um continuar cumprindo o seu papel.
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* Utopia etimologia do grego = ou+topos
** Das 11 horas, em média, 8 horas são destinadas ao trabalho em si, 1 hora à alimentação, e 2 horas para locomoção de ida e volta

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

I'm on the highway to hell...And I've been workin' like a dog. It's been a hard day's night. I should be sleepin' like a log.

O silêncio deu um grito.
O princípio da rachadura vêm de abalos císmicos anteriores e interiores.
Surgiu um rio de fogo que descamba na embriagues de não querer polemizar o que não tem solução.
Mais uma vez a contradição dá voz ao traidor.
Outras razões viram sombras de algo ausente porém palpável.
As semelhanças assustam, pois estão longe do desejo de viver, para quem sabe um dia, o ser. Idéia assustadora...
A ausência sempre nos leva à uma busca do que queremos encontrar, mesmo que usemos de artifícios para não murchar, para não desistir.
O óbvio e cotidiano é a música, mesmo que as redondezas sejam o inferno. Ó mantra!
Sempre vai tocar algo que apazigue minha trizteza e revolta.
-alcalinos pros meios ácidos-
Nem tentar, nem pensar, nem respirar sobre...pois dói.
Lá continua tudo igual, a mesma despretenção de nada dizer, os mesmos assuntos corriqueiros, o alívio descendo gelado, às vezes nem tanto.
Evitar o confronto é o novo conforto.
Obrigada "pai"





Yeah I'm going down anyway

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

no more yada yada

Quanto maior a teia de julgamentos, mais fácil fica se enrolar nela.
Sem paciência pra vitrine das vaidades, das mais fúteis às mais intelectuais...
O que sobra? Excesso de disputa para pouca troca, muitas idéias pré-concebidas sendo repetidas, engajamento de fim de semana, pra encontrar a galera.
Não sei o que mudar, como começar, pois quanto mais vejo quanto esforço é necessário para se adaptar, mais penso em me guardar e nada mais precisar argumentar.
Seu eu algum dia eu me transformar em letras, meu sonho será, virar um abraço...
Um gesto vale bem mais.

domingo, 21 de agosto de 2011

Limites co-criativos

Liberdade intelectual ou criativa é a essência da arte, por mais íntima e pessoal que possa ser.
O bloqueio que tenho reside na falta de respeito alheio, na mania das pessoas pegarem um conceito desenvolvido por alguém e tomá-lo para si, de forma superficial, transformando-o numa casca oca.
Um conceito pode ser discutido, desconstruído, alterado, de um jeito que, de alguma forma, revolucione uma história ou um pensamento, um suspiro ou uma sensação.
A idéia solta pode mostrar o teor do conceito, mas após a fixação desse conceito com base nessa idéia, deixar que outros a mudem, à sua revelia, é deixar que mutilem a criação parida.
A sensação é a de uma mãe, que após aguardar nove meses, sentir as dores do parto, se esforçar e relaxar, tem a notícia de que, como o médico não conseguiu tirar o bebê inteiro, resolveu trazer ao mundo apenas a cabeça...
A simples imagem de uma cabeça solta me dá arrepios, embrulho, não por uma cabeça solta ser tão desagradável, mas por não ser essa a idéia inicial, a que foi concebida!
Quem decide o que é importante ou não? É justo pegar algo próprio de alguém e alterar de forma tão leviana?
Não sei lidar com a ânsia de quem quer criar à partir das minhas entranhas. Não acho justo ceder a alguém que deseja apenas uma realização egoísta, que busca o gozo próprio através do esforço alheio, sem qualquer parceria ou respeito...
Quando morrer não quero que ninguém compre ou receba meus direitos.
Quero plantar sementes soltas, em lugares de ninguém, mesmo sem a certeza de que vingarão.
Preciso passar o que se passa, o momento, sem definir a linguagem ou argumentação.
O que digo ou o que mostro, coisas que vem a mim da mesma forma que se vão, sou eu e é assim que pretendo ser, parte de tudo, sem qualquer filiação ou compromisso com nada nem ninguém.
O fato do que transmito não ser rotulado não da o direito de ninguém fazê-lo.
Uma frase que não tem pontuação, não abre espaço para alguém que quer simplesmente pontuá-la, pois pode ter sido feita para ser completa posteriormente, à partir de reflexões, não através de pontuações que definem sentido pessoal ao que pode não ter.
Sigo tentando não me aborrecer, com o comodismo de quem não quer criar da massa bruta, mas apenas enfeitar o pré-moldado alheio, para chamar de seu...
Mas se o aborrecimento explodir, que seja em forma de ação, para que ninguém mais possa se apossar de parte do que eu digo mas não chego a concluir.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Desculpe ser assim

Eu sinto muito
em excesso, de forma desmedida
sem pudor, sem querer, sem dizer
Dói no tórax uma ansiedade e ao mesmo tempo uma angústia de não ter medo de tentar
Queima mais o pavor de ser mal compreendida
E se a falta de caminhos fosse o problema a solução já teria sido imposta pela vida
O excesso de vontades e possibilidades que me amarram à necessidade de ser feliz
Preciso realizar coisas que transmitam algo, que transbordem tudo que implode em mim e não floresce por falta de luz do sol, por abulia
Fica tudo aqui guardado, inútil e cada vez mais improvável.
Temo não suportar novamente ser podada, tolida, a ponto de perder toda sensibilidade, a criatividade, para "sobreviver".
Não sei mais viver só de arroz, feijão e pão.
Minha sede me marginaliza, me traz um meio de viver numa utopia
Sem de forma alguma depreciar nada, nem me julgar maior, penso que não fui feita para este lugar
Me adapto, me refaço tentando não esmoecer na frustração de concluir que...
Talvez todo o horror não consista em morrer em busca de plenitude.
Talvez a morte seja viver de frustração, catando os restos jogados por quem controla sua rotina
A cada ano que passa, eu existo um pouco menos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

O alcoólatra que reside a vinícola

Fantasmas no meu armário que me fazem perder o grito
Grito surdo dos meus pesadelos de sempre
Melhor não dormir, mas devo admitir...ainda temo
Tudo e qualquer coisa que esteja por vir
Boa ou ruim
A única certeza, é a de que algo se perderá
Cada perda se torna mais valiosa à medida que o tempo a afasta
A perspectiva deveria fazer o inverso
Ou talvez a insistência nisso tudo seja o problema 
Por ânsia de futuro
Sempre avançando vinte passos
Por nostalgia e saudade do que eu era
Continuar, retornando dezenove
Entre uns passos e outros tropeços
Pulando de abismos
Jogada em certas paredes
e sempre, me chocando com o cenário

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Documentando roteiro de um não-filme já visto

É uma época fria para uma piscina de rostos completamente rasa.
É uma guerra ensandecida, com tiros disparados por megalomaníacos, que supõem conhecer toda a verdade de tudo o que tocam e afirmam.
Uma geração inteira onde a falsa rebeldia adolescente dura mais que vinte anos. Neverland tá longe de conseguir comportar esses projetos de pensadores, que só sabem reproduzir de boca cheia o que ouvem de alguém interessante por aí.
Reproduzem filosofia alheia sem nada absorver, projetam uma sombra maior que o próprio limite, se lançando porque precisam ser percebidos, almejam ser notados como produtos de sucesso.
Carência afetiva, solidão, soberba, falta de empatia ou qualquer coisa que nem Freud explicaria...
Dentro de todos os significados delineados por gestos cuidadosamente estudados e laços friamente calculados, pasmo observando o quanto rodas giram em torno de sorrisos cegos e gritos mudos.
Será este o fim de todo o tato? 
Pelo visto, bom mesmo é toda e qualquer educação sendo deixada de lado, exceto, na hora da escalada social, onde o ego aguarda ansiosamente o próximo prato.
Reações não podem ser racionalizadas, nem abraços tão racionados.
À medida que as coisas surgem à volta deste caos de informações desencontradas, a concepção do que é verdade vai se dissolvendo num mar de inutilidades práticas.
Não existe luta ou resistência. Não há escapatória, apenas sobrevivência.
Será este o real pesadelo?
O estômago contrai e os músculos enrijecem suplicando um pouco de doçura, troca e calor humano.
Não percebem que toda disputa terminará em perda de tempo.
Se não há nada a aprender, também não há nada a ganhar.
Tanta atuação, para no fim das contas perceberem que a câmera estava o tempo todo desligada.
TRISTE
FIM

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Reflexão pós-síndrome Quixotiana II - Extremos afiados e obtusos "Com todo respeito"

“Com todo respeito” 
É o prefixo  infeliz de toda sentença que seguirá com algo, provavelmente, bem vulgar e desnecessário.
“Com todo respeito” 
É uma máscara de redenção, pra todo o lixo vocabular proferido, inclusive o que segue abaixo.
Sim, são desculpas que precedem o texto. Ninguém é obrigado a ler este estopim de insubmissão aguda, recheado com alguns termos de baixo calão. 
Em excessão, o texto não contém meias-palavras. O objetivo é qualquer um, menos o de calar ou paliar algo que foi visto e vivido, centenas de vezes, por centenas de pessoas que já se sentiram constrangidas ou reprimidas. 
“Com todo respeito”, no início de uma frase tem um grande poder pra quem diz. Primeiro porque dá a impressão de ser algo que não tem a menor intenção de ofender, mesmo que seja algo vulgar, torpe ou invasivo. Segundo porque praticamente te impede de responder o bom e velho “COM TODO RESPEITO VÁ À MERDA”, principalmente em ambientes públicos.
O “com todo respeito” obriga o(a) interlocutor(a), a levar algo na brincadeira, é a "licença" das convenções sociais.  
Por que isso? Porque qualquer minoria, ou maioria discriminada, precisa engolir alguns preconceitos ou pilhérias. Por que ser insultado de qualquer coisa é melhor do que ser chamado de RADICAL e ser excluído por mais este motivo. 
Isso poderia ser comparado a um estrupro psicológico, onde o importante é que, mesmo que esteja se sentindo invadido, seja necessário permanecer calado, em nome da tal liberdade de expressão do próximo, que em muitos casos, é usada para afrontar o primeiro impunemente.
Mas e a liberdade de expressão, de quem não está de acordo com o (pouco) respeito que lhe foi oferecido? Não deve então haver denúncia, em nome da liberdade do autor da injúria? Se fosse este o caso não haveriam tantos processos por danos morais.
Gosto de tocar neste assunto tratando de questões sociais, que podem ter relação com gênero, cor, religião, sexualidade, padrão estético e etc, porém tratar de todas essas questões, seria quase escrever uma tese e não é esse o objetivo(ainda). Com o tempo talvez eu consiga expor o que penso, da mesma forma, com relação à todos os casos citados no início deste parágrafo.
Como um pequeno exemplo, cito desta vez o caso das mulheres, sem o menor medo de ser acusada de feminista.
Sexo feminino, GERALMENTE, criado com bonecas de bebês, assistindo a clássicos sobre princesas, que vivem escovando os cabelos e se enfeitando, fazendo tortas, cantando e aguardando o príncipe -ou seja, o casamento- para que elas possam procriar e dar continuidade à espécie. Se a mensagem subliminar da criação machista é novidade para alguém, basta tentar olhar para o passado com um pouco mais de atenção.
Isso não quer dizer que são todos pais sádicos e facistas, ou que a mulher não deva gostar de nenhuma das ações acima descritas. O contra-senso não está em nenhum dos atos citados. O perigo vive silencioso, na criação da mulher como objeto ou meio de perpetuação da espécie acima de qualquer interesse pessoal dela mesma. O absurdo está na submissão histórica, cultural e religiosa, que muitas vivem até hoje. Não podemos ignorar que foi, só através de movimentos radicais, que pudemos ser ouvidas, balanceando um pouco a desigualdade abissal no respeito oferecido, entre dois grupos de diferentes gêneros. 
Por que devemos nos calar e ter calma, enquanto há tanta brutalidade nos arrombando os olhos e ouvidos, todas as vezes que saímos de casa? O peso das palavras vai muito além do tão utilizado e batido palavrão. Ofensa é a entonação com que ouvimos um pseudo-elogio como se fossemos um peças penduradas no açougue. Vocabulário patético é aquele dos diálogos onde chovem os “tá ligado, gata?” que nos entornam goela abaixo, como se fossem vírgulas.
Vivemos em uma sociedade materialista, carnal, consumista, machista, que nos obriga a andar dentro da cerca como ovelhas acuadas por lobos.  
O sexo masculino, GERALMENTE imbuído de preconceitos já na infância, tendo que crescer e viver baseado nas cobranças e responsabilidades arbitrariamente impostas a eles. Sofrendo a pressão de ter que corresponder ao comportamento esperado e o único bem visto, para ser aceito pela sociedade em que vive.
O caminho permanece o mesmo. O mesmo trajeto, para cumprir com a maldita rotina, onde ninguém grita, ninguém se rebela. 
Tentamos conviver com a vontade inquietante de romper com tudo e todos os paradigmas, com um impulso de replicar cada pequena menção, de uma possível ofensa, depois de passar por tanto tempo, calados...
Ouvimos tanta coisa que não vale a pena responder. Pela falta de confronto as pessoas continuam pensando que vale a pena nos dizer bobagens. São tantas mentes torpes e limitadas, tantas vidas galgadas em mentiras e atuações.
Implodir costuma ser o vício de quem foi ensinado à se conter.
Oprimir através dos pais, da religião, do senso comum...diariamente cercados por muros aparentemente intransponíveis. O que fazer?  
Quem define a moral e os bons costumes? As mesmas lideranças mundiais que ainda permitem mulheres de outras culturas sejam mutiladas à força na infância? As mesmas pessoas que definiram que o sobrenome do pai é o último, que é o que fica e perpetua o nome da familia?
Entre a cruz e a espada, repudio esta imposição de posições e posturas corretas para cada gênero. Entendo por liberdade, a capacidade de ter a visão ampla e panorâmica do mundo, de enxergar igual as particularidades, de cada ser diferente e agindo de acordo com esta percepção. É preciso mais respeito com o espaço alheio, precisamos de lideranças que entendam que não somos todos iguais, mas que devemos ser julgados de forma imparcial.
Às vezes é necessário que haja um posicionamento bem definido, ainda que racional, sem que haja nenhum medo de ser imoral, diante dos olhos e grilhões das mentes puritanas.
Se isso parece de alguma forma radical, sugiro um estudo sobre a história do mundial, sobre os maiores ditadores do planeta. Um assunto sempre atual, já que vivemos num mundo onde algumas palavras de maiorias reprimidas, ainda são abafadas por aqueles que se dizem livres para governar sua própria cultura, em nome da liberdade de expressão(quando eles impelem qualquer intervenção externa), mas que eles não dão aos seus cidadãos. 

quarta-feira, 30 de março de 2011

Reflexão pós-síndrome Quixotiana I - memoveventocomovelento

Um "se" pra dez "serás"...
De volta em volta, vão ao meio
no eixo do finito circular eterno
da meia-lua, ao vértice perfeito
que não corro contra nem atrás
pois se brigo, canso do manso batido
do vento deixando mover e levar
da água levando a girar
de mais uma volta pra me pendurar
pra tentar mais uma vez
do alto da embriaguez
ver um ponto de sensatez
no horizonte ambulante
inconstante e inquietante
que também há de perecer
que tem pressa de se retirar
 pra recomeçar e renovar
ou pra passar os dias
no balanço distraído e descontraído
de quem não quer descer
nem parar de comtemplar
o atraso que sempre se antecipa ao moinho
e o tempo da volta sem hora
do trabalho sem peso
e da natureza mecanica natural
do movivento sem compromisso
rumo ao contentamento
que segue suave e macio
e que longe de ser estático
está sempre à frente
quem sabe até num sentido
que dependendo da velocidade
pode se tornar elíptico...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Frénésie



Congele-me
Faça isso explodir e derreter
Não pare
Por favor
Dança
Hipnotiza
Atrai
Envolve
Faça arder, doa a quem doer
Não se deixe controlar, abater
Mude de cor
Mude de pele
Force
Deixe tudo destruído
Tome conta
Com todo o tato
Cuide, cuidado



Imagem de: Paul Verlaine

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Avance de ré

Me perguntam o que sou.
A primeira resposta sai como um arfar cansado,
hesitando pelo que seguirá a resposta,
caso eu tenha que escolher um só lado.

Me afirmam o que são.
Primeiramente observo numa panorâmica que se aproxima lentamente.
De forma que quando vejo o olhar, já não creio no que diz ser.
Perco o interesse e volto o olhar para mim perguntando:
-E hoje, qual das minhas quero ser?!

Se precisasse decidir, me diria turista,
mas o que sobra em estranhamento deste lugar,
falta em desapego de onde eu queria estar.

Me disseram que o tempo dirá o que sou...
O tempo, como bom político que é,
Sempre vem com as mesmas promessas,
de que o futuro sempre tem as respostas.
Passando a bola e lavando as mãos...
O problema é que quando o futuro chega, vira presente.
O presente, nunca lembra o que o futuro iria mostrar.


Então nada mais tenho a dizer...
já que as respostas estão guardadas com o futuro...
este faz questão de se manter inalcansável.
Me contento com este nostálgico presente.
Máquina do tempo quebrada...
que só anda de ré...
em circuito fechado...
alta velocidade...

Vou lhe arguir sobre quem és.
Não me responda que o tempo dirá.
Já não creio nessas besteiras atemporais.
Só guardo o que vejo e o que sinto.
Todo o resto é perecível.
Bons tempos que não voltam mais...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ensaio II : Consciência como opção

O ego alheio é a única arma párea para o próprio ego.
Partindo deste princípio dá para perceber o quanto a dor é e não é humana.
A capacidade dela nos tornar animais -às vezes da forma mais primitiva- ou de fazer com que nos tornemos dóceis e afetuosos, é algo extremamente assustador.
Quantas vezes já ouvi pessoas abrindo a boca, para deixa escorregar o famoso clichê : "sou legal enquanto não pisam nos meus calos" ou aquele que diz: "Isso que passei mudou minha vida, virei uma pessoa melhor"...
Em suma, somos todos meros espelhos, sempre refletindo uma ação alheia, só há movimento proveniente de reações (externas) e não de reflexões(internas).
A terapia se torna mais um subterfúgio para culpar nossa criação por nossos erros. A culpa alheia é algo que alivia a própria consciência.
Lavamos as mãos após ler o jornal. Alguns desistiram e preferem nem se sujar.
Quanto mais tempo passa mais imundo fica este mundo que insistimos em chamar de lar.
Desculpas articuladas, criadas para manter no mesmo curso a nossa insólita e cada vez mais difícil rotina, são consequências da dificuldade de admitir, o quanto somos fracos por nosso egoísmo.
Como falhamos, quando o exercício da honestidade começa a ser algo intrínseco.
Honestidade não é qualidade, não é passível de recompensas, parabéns ou medalhas. Ela simplesmente é mais pesada quando ausente e infinitamente leve quando onipresente.
É desenvolvida, ou não.
Usada, ou não.
Aproveitada, ou não.
Criticada, ou não.
Ignorada, não.
É uma simples posse, quase um objeto, um acessório ou um artigo de luxo.
Se na teoria errar é humano. O humano seria um erro?
Me pergunto qual a margem de lucro, o custo benefício....mas evito especular. Tenho medo de ofertas tentadoras.
Quanto vale sua honestidade?

Ensaio I : Cegueira por opção

Tudo mentira.
Essa vontade, aquele futuro....
Toda intenção que hesita quando transita em direção a uma ação...outra mentira.
É só parar pra pensar, se olhar atento cada ato, verá uma nova atuação, que se atualiza a cada lugar e momento, que muda a cada sentimento, sempre baseado na publicidade que altera e cativa através de música e um conjunto de imagens.
A mentira que se torna verdade.
Datas esquecidas, dinheiro gasto, cheiro novo de carro, pilhas de papéis, livros abertos, o que escreve sobre si, a compania destes cigarros amassados, todo esse papo enrolado, o álcool derramado, o desdém forjado, aquele sorriso debochado...
Your tears, your fears...it's all a big lie.
Sonhando em ser mais, omitindo o fato de ser grão. Querendo ir longe, conhecer lugares novos porque não consegue parar de vagar por lugar nenhum, em círculos pela terra de ninguém...
Todo logro em que caímos, os equívocos no que dizemos, a fé que fabricamos, a esperança na qual nos apoiamos, é mero engano onde escolhemos viver.
A ignorância é a zona de conforto.
Precisamos consumir mais um pouco deste nada, mais colorido, novo, mais cheiroso, gostoso...mais agradável assim então, não?Não.
Assim são feitas as próprias cercas destes lindos lixos e o paraíso é aquele belo sonho que vive fora do eixo do real. No fim se torna mais uma grande falácia de algum novo idiota.
Não importa o que ouça, o que se diga, é apenas...
Tudo mentira.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Just in love



Eu andava me fazendo muitas interrogações?
Leonina em dobro, quando não recebia respostas saía por aí cheia de exclamações!
Mas depois de toda tempestade, vem a calmaria com suas reticências...
Como toda fonte que um dia se esgota, as ruas secaram e eu pude perceber o que estava muito difícil de ver.
Talvez o copo ainda estivesse meio cheio e com um sorriso de canto de boca entendi tudo.
O veneno na dose certa poderia ser a cura.
Finalmente pude sentir os raios de sol tocando meu rosto e ofuscando as nuvens que aos poucos iam dissolvendo.
Eu percebi que foi a primeira vista. O céu estava diferente.
Ele era puro e lindo, romântico, colorido, profundo e vivo.
E o céu nada mais tinha a me oferecer. Eu não poderia guardá-lo, não poderia tocá-lo.
Não podia nem morar nele, como desejava... Mas nada disso mudava o fato de que era especificamente aquele céu, que nasceu daquela forma, naquele dia, que me cativou.
Eu estava apaixonada pelo céu e nada mais poderia fazer, a não ser aproveitá-lo até o anoitecer e vê-lo partir.
Me deitei de frente pra ele e resolvi curtir até a última cor se apagar, admirando ele e o que ele me despertava.
Me deleitaria até o último raio e saborearia a sensação de uma paixão que nada poderia me dar, mas que eu ainda queria, só por ter me feito flutuar.
Sem medo, sem hesitar, sem exigir, sem reclamar, sem fingir ou cobrar. É a verdade e ponto.
Percebi que gostava tanto, que me bastava o fato de eu tê-lo visto, dele existir.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Guerra à guerra (sã)

Ontem, me gabava com ela
Como eu era dona de mim
E o quanto é curioso o destino
Pois a louca desvairada
finalmente havia sumido.

Mas o cá-te-espero é sacana
e seus absurdos só cochilam
porém nunca vão pra cama.

Ando por aí no random, mas sempre parece repete
A caneta falha, perco a velocidade do pensamento.
Quando finalmente a encontro
Esqueço sobre o que divagava, perco o momento.

Adianta o troco senhora!
Porque desta vez meu card de nada vale
No escuro e baixo perambulante
Só vai dar pra escrever mais tarde.

Sem me lamentar por pouca miséria
Ciente de que no abafado não dá pra pensar
Espero pela próxima ida ao Ártico
Aí sim eu começo a reclamar...

Banco traseiro, janela alta e exatamente duas horas
Pouco tempo picotado pra resolver
o que farei com a outra que habita em meu ser.

PUTA, FALTA DE SACANAGEM!
por isso a deixo presa e enjaulada
Gritando, me ensurdecendo...
Ensandecida, larga de ser encrenqueira!
Deixe minha paz, desista de meu joelho
Não tenho espaço pra negociar
Não me engano, SEI qual é seu único intento
Só pra medir forças chega pra bagunçar...

Então ata meus olhos e venda meus pulsos
...ou inverta, revertendo tudo.
Porque o bar abre os braços de terça à domingo
Já não ligo pra louca que se denuncia
Perdeu as rédeas, fechei a conta da terapia
E há muito que não há descanso no sétimo dia...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Escarlate

Resolveu se livrar do cadáver no armário. Já fazia tempo que insistia guardá-lo. Estava tão bem escondido que nem o notou. Mas o corpo que ali jazia, já começava a cheirar. Já não podia mais disfarçar, os vizinhos já estavam a notar sua mórbida devoção ao fúnebre, que era alimentada diariamente pelas constantes visitas póstumas que o defunto fazia, ao desaparecer pelas madrugadas. Ludibriando com palavras tão sem sentido quanto ocas, recriando algo que já não existia mais...Algo sobrenatural ainda a rondava, obsediava. Mãos gélidas, as costas arrepiavam. Abraços de sufoco, a morte respirava em seu pescoço. Onipresente da forma mais etérea, ocupava mais espaço que o ar em seus pulmões. Apartamento vazio, janela aberta ondulando as cortinas de linho. Seis garrafas do mais fino vinho. Um fantasma, dois silêncios, três delírios. Mais 30 comprimidos e outro suspiro...Um corpo sem vida, sem calor, que mesmo morto, só fazia doer. Agonizando em busca da misericórdia, deu-se a decisão que lhe pouparia desgostos. Alçou vôo de encontro aquelas luzes que brilhavam vermelhas, pelas coberturas inferiores...





























Sentiu gosto do vento frio no rosto. Sentiu o vácuo penetrando seu ser, subindo sua barriga, implodindo no peito relaxando seus os músculos...e riu de forma salaz...das consequências que não poderiam mais lhe pesar! Pela primeira e última vez, finalmente pôde mergulhar e repousar, com sua leveza peculiar e ambígua, sobre lençol quente e úmido, de sua cor preferida.


sábado, 7 de agosto de 2010

Grande espetáculo






Mais uma compania itinerante chegou à cidade!
Uma antiga arte esquecida
Uma prática politicamente incorreta
Tentando se equilibrar na corda bamba
Difícil anunciar, quem vai ter coragem de falar?
A voz sai por um fio, como um pio
Burburinhos de festa, grandes expectativas
Apenas umas palavras mal|ditas
no segundo errado, num tom mais forte
O suficiente para todo fogo sucumbir
Pro malabarista deixar tudo cair
Abalando a inacreditável frieza do contorcionista
Esfriando o vicioso o calor do palhaço
Assim o ilusionista insiste em ser mágico
Dividir ela em duas é próximo passo
Mal sabe ele que aprender a levitar
não é apenas um truque de escola
Mas guardem o segredo Mister M
Pois coelho fugiu da cartola
E correu atrasado para a toca
O bizarro que vira excentricidade
Serão loucos dias nessa cidade
Venham, venham, respeitável público
O show tem que continuar
A lona está apagada, mas o circo ta armado
Qual será a próxima ilusão?!
Entrarias na jaula deste leão?
Ousarias rir do seu nariz de pintado?
Quando irá começar aquele novo quadro???
Silêncio impera enquanto facas cortam o vento
Ela parece estar inteira, de longe ninguém vê
Cicatrizes e arranhões, um atirador vendado...
Saltimbancos e engolidores de fogo
Globo da morte está montado
Acelerando em círculos e barulho
Suspense, o rufar dos tambores
O acrobata vai saltar, vai voar
O grande público fecha os olhos
Temem vê-lo cair
Mas talvez a rede cumpra seu ofício
A mão do acrobata se estenderá para o alívio
Salvando-o baque que ninguém quer ouvir
E do silêncio dessa longa queda

















...e o show tem que continuar...



















 





VÁLIDO LEMBRAR!