sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Avance de ré

Me perguntam o que sou.
A primeira resposta sai como um arfar cansado,
hesitando pelo que seguirá a resposta,
caso eu tenha que escolher um só lado.

Me afirmam o que são.
Primeiramente observo numa panorâmica que se aproxima lentamente.
De forma que quando vejo o olhar, já não creio no que diz ser.
Perco o interesse e volto o olhar para mim perguntando:
-E hoje, qual das minhas quero ser?!

Se precisasse decidir, me diria turista,
mas o que sobra em estranhamento deste lugar,
falta em desapego de onde eu queria estar.

Me disseram que o tempo dirá o que sou...
O tempo, como bom político que é,
Sempre vem com as mesmas promessas,
de que o futuro sempre tem as respostas.
Passando a bola e lavando as mãos...
O problema é que quando o futuro chega, vira presente.
O presente, nunca lembra o que o futuro iria mostrar.


Então nada mais tenho a dizer...
já que as respostas estão guardadas com o futuro...
este faz questão de se manter inalcansável.
Me contento com este nostálgico presente.
Máquina do tempo quebrada...
que só anda de ré...
em circuito fechado...
alta velocidade...

Vou lhe arguir sobre quem és.
Não me responda que o tempo dirá.
Já não creio nessas besteiras atemporais.
Só guardo o que vejo e o que sinto.
Todo o resto é perecível.
Bons tempos que não voltam mais...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ensaio II : Consciência como opção

O ego alheio é a única arma párea para o próprio ego.
Partindo deste princípio dá para perceber o quanto a dor é e não é humana.
A capacidade dela nos tornar animais -às vezes da forma mais primitiva- ou de fazer com que nos tornemos dóceis e afetuosos, é algo extremamente assustador.
Quantas vezes já ouvi pessoas abrindo a boca, para deixa escorregar o famoso clichê : "sou legal enquanto não pisam nos meus calos" ou aquele que diz: "Isso que passei mudou minha vida, virei uma pessoa melhor"...
Em suma, somos todos meros espelhos, sempre refletindo uma ação alheia, só há movimento proveniente de reações (externas) e não de reflexões(internas).
A terapia se torna mais um subterfúgio para culpar nossa criação por nossos erros. A culpa alheia é algo que alivia a própria consciência.
Lavamos as mãos após ler o jornal. Alguns desistiram e preferem nem se sujar.
Quanto mais tempo passa mais imundo fica este mundo que insistimos em chamar de lar.
Desculpas articuladas, criadas para manter no mesmo curso a nossa insólita e cada vez mais difícil rotina, são consequências da dificuldade de admitir, o quanto somos fracos por nosso egoísmo.
Como falhamos, quando o exercício da honestidade começa a ser algo intrínseco.
Honestidade não é qualidade, não é passível de recompensas, parabéns ou medalhas. Ela simplesmente é mais pesada quando ausente e infinitamente leve quando onipresente.
É desenvolvida, ou não.
Usada, ou não.
Aproveitada, ou não.
Criticada, ou não.
Ignorada, não.
É uma simples posse, quase um objeto, um acessório ou um artigo de luxo.
Se na teoria errar é humano. O humano seria um erro?
Me pergunto qual a margem de lucro, o custo benefício....mas evito especular. Tenho medo de ofertas tentadoras.
Quanto vale sua honestidade?

Ensaio I : Cegueira por opção

Tudo mentira.
Essa vontade, aquele futuro....
Toda intenção que hesita quando transita em direção a uma ação...outra mentira.
É só parar pra pensar, se olhar atento cada ato, verá uma nova atuação, que se atualiza a cada lugar e momento, que muda a cada sentimento, sempre baseado na publicidade que altera e cativa através de música e um conjunto de imagens.
A mentira que se torna verdade.
Datas esquecidas, dinheiro gasto, cheiro novo de carro, pilhas de papéis, livros abertos, o que escreve sobre si, a compania destes cigarros amassados, todo esse papo enrolado, o álcool derramado, o desdém forjado, aquele sorriso debochado...
Your tears, your fears...it's all a big lie.
Sonhando em ser mais, omitindo o fato de ser grão. Querendo ir longe, conhecer lugares novos porque não consegue parar de vagar por lugar nenhum, em círculos pela terra de ninguém...
Todo logro em que caímos, os equívocos no que dizemos, a fé que fabricamos, a esperança na qual nos apoiamos, é mero engano onde escolhemos viver.
A ignorância é a zona de conforto.
Precisamos consumir mais um pouco deste nada, mais colorido, novo, mais cheiroso, gostoso...mais agradável assim então, não?Não.
Assim são feitas as próprias cercas destes lindos lixos e o paraíso é aquele belo sonho que vive fora do eixo do real. No fim se torna mais uma grande falácia de algum novo idiota.
Não importa o que ouça, o que se diga, é apenas...
Tudo mentira.