terça-feira, 11 de junho de 2013

Um ser decocto

Pouco estômago pra tanto mundo
Ensinam-nos a não consumir tudo com tanta pressa
Pedem paciência
pra ficar frio
pra ficar quente
pra ficar
pra ser digerido
virar adubo, ser cagado ao invés de saborear e defecar cada mordida, lambida, cada gole, odor, textura e tudo que não se aproxime desses pré-preparados propositalmente bem servidos de rebotalhos que minguam até a farta miséria de cada um.

domingo, 7 de abril de 2013

Percepção alimentícia



Como todos os lugares que passo inconscientemente
Cada passo
Cada toque
Pupila da percepção que se estica e retrai
Retração que trai
Subscrevendo outras existências
Fazendo da história um rascunho rasurado
Tornando o mar, um asfalto marcado
Marcas das mãos que não possuem tato
Toco cada pedaço de percepção
Estico, debato, arrebento
Sinto o paladar do que me entorna
Todavia ao parar e tomar o sustento
Lembro de lavar as mãos
Ao mesmo tempo que temo perder tudo que toquei
Perco a oportunidade de sentir o gosto do que me toca

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Entranha



Virado
Falta o peso dentro
Avesso
Toda tentativa de ingestão escorre externamente
Aparente
Órgãos trepados e pendurados, tentando não despencar
Pulsando
Buscando cobertura
Cru
Como tudo que não terminou o ciclo vitalício
Exposto
Esfolado
Execrado
Carne viva
Desagradável, tanto pra quem vê, quanto pra quem sente
Inverso
Grotesco
Visceral
Delicado
Falho
Sem escolha
Puro
Sem acabamento
Interior
Escatológico
Vulnerável
Infectável
Fluidos
Lacrimais
Secreções
Secretas
Discrições
Represa
Circulações
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Sangue
Vento
Tempo
Sangue
Vento
Tempo
Sangue
Pra coagular, endurecer, diante de tanta falta de estesia
Verborragia indesejada
indecente
in de sente
independente de se ja
de se ja da
in de seja da 
C a l m a maiscalmatenhacalmavácomcalmamuitacalmacalmacalmacalma
maiscalmatenhacalmavácomcalmamuitacalmacalma
calmacalmamascalmatenhacalmavácomcalmamuita
calmacalmacalmacalmamascalmatenhacalmavácomcalma
muitacalmacalmacalmacalmamascalmatenhacalmavácomcalma
muitacalmacalmacalmacalmamascalmatenhacalma
vácomcalmamuitacalmacalmacalmacalmamaiscalma
tenhacalmavácomcalmamuitacalmacalmacalmacalma
maiscalmatenhacalmavácomcalmamuitacalmacalmacalma
calmac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’almac’alma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almaalmaalmaalma
c’almac’almac’almac’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almac’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almac’almaalmaalma
c’almac’almaalmaalma
c’almaalmaalma
almaalma
alma

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Sentidos

Sentidos perdidos
Não vejo
Não vejo mais o porquê do sujeito indeterminado
    de terminado
in deter minado
Su jeito
que já não me agrada
e de que outro jeito posso dizer 
sem diz: ser 'eu'
se sou 'eu' que o sinto e só por isso o digo?
O ego é o eu com eco.
Negar o ego seria negar o eu
assim como negar o eu de minhas frases 
seria fabricar um outro alguém externo 
do que penso
do que sinto
do que causo
do que digo
e se me nego
e não falo mais na primeira pessoa
tento fazer de mim outro ele
para dizer um pouco mais
sobre
nós

nos 
anulamos

e perdemos
EUEueueueueueumeueueueUmEUeuEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueuseueueueueuEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueuseueueueueuEueueuEUEueueueumeueueueUeueuerromeueueueueueueueueuseueueueueuEueueuEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueuEUEUEUEUEUEUEUEueueuteueueueueueueueueueueumeuseueueueueueueueueueueuseueueueueueueueuemeueueueueuEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueueueueueueueUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEueueueueueueueueueueueueueueueueueuUEUEUEUEUEUEUMEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUEUeueueueueueueueueueueueUseUeUeUeUeUmeUmeUseUseUSeeeuSEUUUUUUUUSentidoSentidoSeeeuSEUUUUUUUUSentidoSentidoSeuseUseUseUseueueueuSeeeuSEUSentidoSentidoSeuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseuseueuseuseuseuseus
meus
eus
seus
eus
SeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSSentidoSeuSentidoSeuentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuSentidoSeuS