quarta-feira, 13 de abril de 2011

Reflexão pós-síndrome Quixotiana II - Extremos afiados e obtusos "Com todo respeito"

“Com todo respeito” 
É o prefixo  infeliz de toda sentença que seguirá com algo, provavelmente, bem vulgar e desnecessário.
“Com todo respeito” 
É uma máscara de redenção, pra todo o lixo vocabular proferido, inclusive o que segue abaixo.
Sim, são desculpas que precedem o texto. Ninguém é obrigado a ler este estopim de insubmissão aguda, recheado com alguns termos de baixo calão. 
Em excessão, o texto não contém meias-palavras. O objetivo é qualquer um, menos o de calar ou paliar algo que foi visto e vivido, centenas de vezes, por centenas de pessoas que já se sentiram constrangidas ou reprimidas. 
“Com todo respeito”, no início de uma frase tem um grande poder pra quem diz. Primeiro porque dá a impressão de ser algo que não tem a menor intenção de ofender, mesmo que seja algo vulgar, torpe ou invasivo. Segundo porque praticamente te impede de responder o bom e velho “COM TODO RESPEITO VÁ À MERDA”, principalmente em ambientes públicos.
O “com todo respeito” obriga o(a) interlocutor(a), a levar algo na brincadeira, é a "licença" das convenções sociais.  
Por que isso? Porque qualquer minoria, ou maioria discriminada, precisa engolir alguns preconceitos ou pilhérias. Por que ser insultado de qualquer coisa é melhor do que ser chamado de RADICAL e ser excluído por mais este motivo. 
Isso poderia ser comparado a um estrupro psicológico, onde o importante é que, mesmo que esteja se sentindo invadido, seja necessário permanecer calado, em nome da tal liberdade de expressão do próximo, que em muitos casos, é usada para afrontar o primeiro impunemente.
Mas e a liberdade de expressão, de quem não está de acordo com o (pouco) respeito que lhe foi oferecido? Não deve então haver denúncia, em nome da liberdade do autor da injúria? Se fosse este o caso não haveriam tantos processos por danos morais.
Gosto de tocar neste assunto tratando de questões sociais, que podem ter relação com gênero, cor, religião, sexualidade, padrão estético e etc, porém tratar de todas essas questões, seria quase escrever uma tese e não é esse o objetivo(ainda). Com o tempo talvez eu consiga expor o que penso, da mesma forma, com relação à todos os casos citados no início deste parágrafo.
Como um pequeno exemplo, cito desta vez o caso das mulheres, sem o menor medo de ser acusada de feminista.
Sexo feminino, GERALMENTE, criado com bonecas de bebês, assistindo a clássicos sobre princesas, que vivem escovando os cabelos e se enfeitando, fazendo tortas, cantando e aguardando o príncipe -ou seja, o casamento- para que elas possam procriar e dar continuidade à espécie. Se a mensagem subliminar da criação machista é novidade para alguém, basta tentar olhar para o passado com um pouco mais de atenção.
Isso não quer dizer que são todos pais sádicos e facistas, ou que a mulher não deva gostar de nenhuma das ações acima descritas. O contra-senso não está em nenhum dos atos citados. O perigo vive silencioso, na criação da mulher como objeto ou meio de perpetuação da espécie acima de qualquer interesse pessoal dela mesma. O absurdo está na submissão histórica, cultural e religiosa, que muitas vivem até hoje. Não podemos ignorar que foi, só através de movimentos radicais, que pudemos ser ouvidas, balanceando um pouco a desigualdade abissal no respeito oferecido, entre dois grupos de diferentes gêneros. 
Por que devemos nos calar e ter calma, enquanto há tanta brutalidade nos arrombando os olhos e ouvidos, todas as vezes que saímos de casa? O peso das palavras vai muito além do tão utilizado e batido palavrão. Ofensa é a entonação com que ouvimos um pseudo-elogio como se fossemos um peças penduradas no açougue. Vocabulário patético é aquele dos diálogos onde chovem os “tá ligado, gata?” que nos entornam goela abaixo, como se fossem vírgulas.
Vivemos em uma sociedade materialista, carnal, consumista, machista, que nos obriga a andar dentro da cerca como ovelhas acuadas por lobos.  
O sexo masculino, GERALMENTE imbuído de preconceitos já na infância, tendo que crescer e viver baseado nas cobranças e responsabilidades arbitrariamente impostas a eles. Sofrendo a pressão de ter que corresponder ao comportamento esperado e o único bem visto, para ser aceito pela sociedade em que vive.
O caminho permanece o mesmo. O mesmo trajeto, para cumprir com a maldita rotina, onde ninguém grita, ninguém se rebela. 
Tentamos conviver com a vontade inquietante de romper com tudo e todos os paradigmas, com um impulso de replicar cada pequena menção, de uma possível ofensa, depois de passar por tanto tempo, calados...
Ouvimos tanta coisa que não vale a pena responder. Pela falta de confronto as pessoas continuam pensando que vale a pena nos dizer bobagens. São tantas mentes torpes e limitadas, tantas vidas galgadas em mentiras e atuações.
Implodir costuma ser o vício de quem foi ensinado à se conter.
Oprimir através dos pais, da religião, do senso comum...diariamente cercados por muros aparentemente intransponíveis. O que fazer?  
Quem define a moral e os bons costumes? As mesmas lideranças mundiais que ainda permitem mulheres de outras culturas sejam mutiladas à força na infância? As mesmas pessoas que definiram que o sobrenome do pai é o último, que é o que fica e perpetua o nome da familia?
Entre a cruz e a espada, repudio esta imposição de posições e posturas corretas para cada gênero. Entendo por liberdade, a capacidade de ter a visão ampla e panorâmica do mundo, de enxergar igual as particularidades, de cada ser diferente e agindo de acordo com esta percepção. É preciso mais respeito com o espaço alheio, precisamos de lideranças que entendam que não somos todos iguais, mas que devemos ser julgados de forma imparcial.
Às vezes é necessário que haja um posicionamento bem definido, ainda que racional, sem que haja nenhum medo de ser imoral, diante dos olhos e grilhões das mentes puritanas.
Se isso parece de alguma forma radical, sugiro um estudo sobre a história do mundial, sobre os maiores ditadores do planeta. Um assunto sempre atual, já que vivemos num mundo onde algumas palavras de maiorias reprimidas, ainda são abafadas por aqueles que se dizem livres para governar sua própria cultura, em nome da liberdade de expressão(quando eles impelem qualquer intervenção externa), mas que eles não dão aos seus cidadãos.