domingo, 21 de agosto de 2011

Limites co-criativos

Liberdade intelectual ou criativa é a essência da arte, por mais íntima e pessoal que possa ser.
O bloqueio que tenho reside na falta de respeito alheio, na mania das pessoas pegarem um conceito desenvolvido por alguém e tomá-lo para si, de forma superficial, transformando-o numa casca oca.
Um conceito pode ser discutido, desconstruído, alterado, de um jeito que, de alguma forma, revolucione uma história ou um pensamento, um suspiro ou uma sensação.
A idéia solta pode mostrar o teor do conceito, mas após a fixação desse conceito com base nessa idéia, deixar que outros a mudem, à sua revelia, é deixar que mutilem a criação parida.
A sensação é a de uma mãe, que após aguardar nove meses, sentir as dores do parto, se esforçar e relaxar, tem a notícia de que, como o médico não conseguiu tirar o bebê inteiro, resolveu trazer ao mundo apenas a cabeça...
A simples imagem de uma cabeça solta me dá arrepios, embrulho, não por uma cabeça solta ser tão desagradável, mas por não ser essa a idéia inicial, a que foi concebida!
Quem decide o que é importante ou não? É justo pegar algo próprio de alguém e alterar de forma tão leviana?
Não sei lidar com a ânsia de quem quer criar à partir das minhas entranhas. Não acho justo ceder a alguém que deseja apenas uma realização egoísta, que busca o gozo próprio através do esforço alheio, sem qualquer parceria ou respeito...
Quando morrer não quero que ninguém compre ou receba meus direitos.
Quero plantar sementes soltas, em lugares de ninguém, mesmo sem a certeza de que vingarão.
Preciso passar o que se passa, o momento, sem definir a linguagem ou argumentação.
O que digo ou o que mostro, coisas que vem a mim da mesma forma que se vão, sou eu e é assim que pretendo ser, parte de tudo, sem qualquer filiação ou compromisso com nada nem ninguém.
O fato do que transmito não ser rotulado não da o direito de ninguém fazê-lo.
Uma frase que não tem pontuação, não abre espaço para alguém que quer simplesmente pontuá-la, pois pode ter sido feita para ser completa posteriormente, à partir de reflexões, não através de pontuações que definem sentido pessoal ao que pode não ter.
Sigo tentando não me aborrecer, com o comodismo de quem não quer criar da massa bruta, mas apenas enfeitar o pré-moldado alheio, para chamar de seu...
Mas se o aborrecimento explodir, que seja em forma de ação, para que ninguém mais possa se apossar de parte do que eu digo mas não chego a concluir.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Desculpe ser assim

Eu sinto muito
em excesso, de forma desmedida
sem pudor, sem querer, sem dizer
Dói no tórax uma ansiedade e ao mesmo tempo uma angústia de não ter medo de tentar
Queima mais o pavor de ser mal compreendida
E se a falta de caminhos fosse o problema a solução já teria sido imposta pela vida
O excesso de vontades e possibilidades que me amarram à necessidade de ser feliz
Preciso realizar coisas que transmitam algo, que transbordem tudo que implode em mim e não floresce por falta de luz do sol, por abulia
Fica tudo aqui guardado, inútil e cada vez mais improvável.
Temo não suportar novamente ser podada, tolida, a ponto de perder toda sensibilidade, a criatividade, para "sobreviver".
Não sei mais viver só de arroz, feijão e pão.
Minha sede me marginaliza, me traz um meio de viver numa utopia
Sem de forma alguma depreciar nada, nem me julgar maior, penso que não fui feita para este lugar
Me adapto, me refaço tentando não esmoecer na frustração de concluir que...
Talvez todo o horror não consista em morrer em busca de plenitude.
Talvez a morte seja viver de frustração, catando os restos jogados por quem controla sua rotina
A cada ano que passa, eu existo um pouco menos.